Ericeira: uma reflexão sociológica

De facto como vos disse ontem, vim com o meu irmão ao campeonato do mundo WQS de surf em Ribeira d'ilhas. Gostei imenso de ver os realmente prós a surfar, é pena que as ondas não fossem muito boas, com alguns excepções ou se calhar ainda tinha havido mais acção e espectáculo. O torneio entrou nos quartos-de-final e há grande expectativa no Português Tiago Pires que aliás foi de longe o mais aplaudido na praia no seu "heat". Há tipos muito bons mesmo a rasgar ondas que dá gosto ver.

O problema foi a partir das 13h. Maré Cheia, campeonato suspenso por não haver ondas (foi até às 19h). A partir daí a praia ficou livre para surf e claro o meu irmão lá andou a bombar a tarde toda. Vinha feliz da vida com umas ondas dele.

O que é que sucede? Depois de ler 2x a Visão de uma ponta à outra descobri-me sozinho e sem nada para fazer à espera que a competição recomeçasse. Não podendo abandonar as coisas e com o irmão nada preocupado com o meu destino solitário dei por mim a observar em redor. Apercebi-me naquele momento de como a praia estava sardinha em lata (a foto foi só de manhã!).
Apercebi-me da dimensão do que obviamente já tinha reparado. À minha volta havia muitas dezenas, aliás havia centenas de mulheres/homens, raparigas/rapazes do tipo que se vê nos filmes ou quase umas marés vivas. Não estou a brincar, nunca tinha visto uma concentração assim tão grande!
É claro que à primeira impressão é agradável ver montes de miúdas giras por todo o lado, não o vou negar de todo (que raio de homem era eu afinal!) mas isso deu para uma reflexão sociológica. Porquê ali? Em nenhuma outra praia do país estávamos com estas vistas. Por o Surf ser moda? Por as meninas estarem a tentar agarrar um surfista, e os meninos engatarem as meninas boazudas?

Apercebi-me ali de toda a dimensão da sociedade das aparências, da moda e consumista. E num expoente alto. Consumista no sentido de todos ali alimentarem a indústria do surf em roupas e objectos de marcas (caríssimos como todos sabemos) e não só.

Mas pior que isso é ver o culto da aparência, da estética, do que é moda. Num ambiente que começei a senti-lo como uma farsa. Postiço. Decadente pra quem cuida da alma. Porque tem estilo. Solários, Silicone, Ginásios, Clinícas, etc. Algo que se sente numa discoteca mas aqui em grande número. Os cigarros acesos e o consequente cheiro a tabaco em todo o lado parecia um recinto fechado. Um nojo! "Um noijo!"

Nada disto é a Natureza Humana. Em nada disto eu me identifico, nada disto fará alguma dessas pessoas feliz, tenho quase a certeza. Não serve para nada. Passou pela mente de mais alguém uma frase tão simples como "As melhores coisas da vida não são coisas". Toda esta aparência é ilusão, a verdadeira beleza é interior. É pena... se o surf não fosse moda talvez fosse mais giro para mim aprendê-lo. Só espero que passe de moda!

Desculpem ter-me alongado... mas é tão difícil (des)escrever estes sentimentos, mesmo assim relendo não ficou muito do que queria partilhar com o mundo... espero que haja quem compreenda.